Hoje li alguns depoimentos de maes que ja entregaram filhos a Deus.
Algumas narram historias de filhos que aguardavam ainda nos seus ventres e nao nasceram vivos. Outras contam historias de filhos que chegaram a nascer com vida, mas Deus os levou com poucos dias de sobrevivencia terrena. E ainda outras contam historias de filhos que nasceram vivos, cresceram, e enfim, foram embora para o Ceu.
Lembrei-me entao do dia em que a mais de 20 anos atras, fui fazer uma ultrassonografia...eu estava gravida de Huguinho, meu filho.
Naquela tardinha, quase anoitecendo. Tive que fazer uma ultrassonografia de emergencia, requisitada pelo medico, que acreditava que Hugo ja passava da hora de nascer, e eu nao sentia nenhum sinal, nenhuma contracao, ou dilatacao.
Na sala de espera conheci uma outra gestante , que com seu marido aguardava seu horario de atendimento. Eu tambem estava com o pai de Hugo, e estavamos os 4 apreensivos.
Claro, queriamos saber como estavam os nossos bebes. Se estavam bem...
Eu e Vitor nao tinhamos a intencao de sabermos o sexo da crianca, mas se realmente seria necessario fazer uma cesariana. E se realmente ja havia passado a hora de nascer do nosso pimpolho.
Enquanto aguardavamos para sermos atendidos, eu e a outra gestante conversavamos sobre nossas gravidez. Ela contava o que pretendia. O que ja havia preparado para o enxoval, e estava entusiasmada. Ficamos ali entao, conversando por cerca de 1 hora talvez, ate que ela foi chamada antes de mim.
Quando essa mulher saiu da sala do medico, ela estava com o semblante modificado. Parecia que carregava um peso pendurado em suas costas. Seus ombros estavam inclinados para frente, e seu olhar dirigia-se para o chao. Cabisbaixa assim , me disse: "Esta morto!".
Seu marido logo atras, segurando-a pelos ombros, tambem mantinha um olhar entristecido.
Naquele momento ao ouvir aquela declaracao, nao soube o que dize-la. Nao sabia realmente o que poderia dizer para consolar alguem que esperava um filho a alguns meses e acabara de receber a triste noticia de que seu filho morrera em seu ventre. Perdi as palavras...
Acho que apenas disse: "Sinto muito", e mais nada...nao sabia o que dizer.
Em seguida, eu fui chamada para comparecer a sala de ultrassonografia. La dentro o medico enquanto fazia o exame dizia: " E...voce nao vai sentir dor...ele ja esta prontinho para nascer. Pode ir agora mesmo para o hospital".
Ao que Vitor, deu um passo para frente e perguntou ao medico: " E menino ou menina?". Olhei para ele com ar de censura, porque queria saber disso apos o nascimento, mas Vitor sequer percebeu o meu olhar, porque olhava o monitor com a figura de Hugo compenetradamente, mal piscava. E o medico respondeu: " E menino!". Vi quando Vitor abriu um sorriso largo e lindo, sorriso esse que Hugo tinha igual.
Ali na sala de exame, ja nem me lembrava da tristeza do olhar daquela mulher que acabara de saber que Deus levou o seu filho antes mesmo de conhecer esse mundo. Era um momento de alegria para nos.
Saimos dali e fomos entao em direcao ao hospital e conhecermos horas depois a face de nosso filho, sem o aparelho de ultrassom. Ele iria nascer.
Antes disso, Vitor fez questao de passar no hospital aonde estava internada sua tia, que tambem acabara de dar a luz. Ele sabia que seu tio havia feito uma menina, e foi la para dizer: " E fiz um menino!". Coisas de pai de primeira viagem...rs.
Logo eu ja estava com meu rebento em meus bracos. Vitor o viu primeiro, pois eu adormeci durante a cesariana. Quando voltei para o quarto, Vitor ja estava com Hugo nos bracos dizendo: " para de chorar, voce e um homem ou um rato?!". Ao que eu sorri vendo-o tao feliz com o seu filho.
Durante os dias seguintes, sempre que Hugo queria ser amamentado, Vitor trazia-o ate a mim no leito. E de minhas lembrancas desses dias, de nada esqueco, nenhum detalhe. Nem mesmo quando Vitor segurava Hugo desajeitado e o menino ia escapando por entre as mantas quase caindo ao chao, enquanto Vitor segurava somente as mantas kkkk. Eu gritei: "Vitor o menino vai cair!!!!!". Ele se desesperou, colocou Hugo embolado entre as mantas, para consertar tudo de novo kkkk. Foi muito engracado isso.
Ate aquele momento Hugo ainda era "o menino". Nao tinha nome...
Ficamos entao eu deitada no leito e Vitor sentado a minha frente, enquanto Hugo dormia no berco pensando num nome...hum....
Sugestionei- Vitor?
Nao , Vitor nao, nao vai ficar legal.
Ue, pode ser Vitor Junior?
Nao, vao chamar de Juninho.
Eu queria Andre. Mamae sempre quis um neto que se chamasse Andre por causa do pai dela.
E, Andre e legal, dizia Vitor, mas o filho de minha irma, ja se chama Andre.
Ahhh, que chato!
Hugo?
Hugo e legal. Meu pai e Hugo, dizia Vitor. E eu tambem sou Vitor Hugo.
Ah, entao vamos deixar Hugo mesmo. Mas Hugo de que? Eu queria um segundo nome.
Depois pensamos no segundo nome entao, disse Vitor.
Mais tarde entao, uma senhora entrou em meu quarto com um bebe no colo dizendo: " Minha irma nao tem leite para ele. Vc se importaria de amamentar meu sobrinho?".
Respondi: Claro que amamento. Da aqui!
Nooooooossa. O menino devorou o meu leite. Ele nao parava de amamentar de modo algum. Ate que a tia o pegou novamente dizendo: "Ele e muito abusado kkk".
perguntei: 'Qual sera o nome dele?"
Ela respondeu: "Sera Carlos Magno"
Bonito nome, eu disse.
Assim que pude disse ao pai de Hugo. " Achei o segundo nome para Hugo".
Qual e?, perguntou Vitor.
Sera HUGO MAGNO, pois fui mae de leite de um menino que se chamara Carlos Magno.
Enfim, todas essas alegrias, descobertas, historias, circunstancias, fatos, foram se passando a medida que Hugo ia crescendo, ate que ele completou 21 anos, 11 meses , 10 dias, e algumas horas aqui na terra conosco, para entao eu entender o que aquela mulher que estava comigo, la na clinica de ultrassonografia sentiu naquela tardinha.
Ate entao, eu talvez tivesse uma nocao do que era aquele sentimento que a deixara assim, com o semblante entristecido e o olhar cabisbaixo. mas somente conhecemos verdadeiramente o que se passa no coracao de uma mae orfa, quando tambem somos uma mae orfa.
21 anos, 11 meses, 10 dias e algumas horas depois daquela tarde, o meu sentimento era o mesmo daquela jovem senhora que passara por mim , em direcao a porta de saida com o olhar sem brilho e o coracao apertado.
Talvez ela chore ate hoje por tudo o que nao chegou a viver com o seu filho. Da mesma maneira que tenho saudades das lembrancas de tudo o que eu vivi com o meu filho.
Filho, te amo, e te amarei eternamente
De sua mamae.
quinta-feira, 7 de maio de 2009
21 anos depois, foi a minha vez...
Postado por Hugo Giuberti. Rompendo em fe ! às 09:01
1 Comment:
Oi, tudo bem! Me chamo Priscila, tenho 22 e moro em Belo horizonte.
li cada palavra que foi escrita por você, nesse momento não consigo conter minhas lagrimas.Sinto como se tivesse conhecido seu filho. Sinceramente estou sem palavras. Fique na paz.
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