Mae! Eu ja li a Biblia toda varias vezes. E a conclusao que cheguei e que a missao de todos nos, aqui na terra, e amarmos uns aos outros!
HUGO MAGNO DE BARROS GIUBERTI
Desceu a terra em 10/09/85 e Subiu ao ceu em 20/08/07

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Traz acucar!

15 de Agosto de 2009 foi um dia cansativo para mim, e tambem de muitas emocoes.
Todos que passam pelo luto, sabem o quanto os dias que antecedem a data de aniversario de um falecimento do corpo, pode mexer com as nossas emocoes.
Nos tornamos muito mais sensiveis. Ficamos tensas. Temos um certo medo daquele dia, daquela data. Medo do tempo que passa, que voa...
Uma amiga escreveu certa vez : " Hoje fazem 3 anos a menos que verei minha filha novamente".
Achei muito curioso que ela contasse o tempo assim, de tras para frente. E menos assustador.
Se contarmos esse tempo olhando para tras, e de fato, dolorido demais!.
As roupas vao envelhecendo, o cheiro vai desaparecendo, a tecnologia vai avancando, e tudo parece cada vez mais antigo. Isso assusta!. Causa nos a sensacao de que "aquela pessoa" esta cada vez mais no passado. E essa e uma sensacao tremendamente ruim!
Resolvi aderir a ideia da minha amiga, mae da linda Vi.
Depois que li o que ela escreveu, tento olhar o tempo para frente. Farao entao 2 anos a menos , no dia 20 de Agosto, que verei meu filho novamente. E isso e maravilhoso!
No entanto no dia 15, a 2 dias atras, Deus permitiu que eu vivesse uma sensacao meia que assustadora novamente.
Meu filho de 13 anos, queria se despedir de uma grande amiga, que se mudou para New York com a familia. Para fazer isso, recusou um convite de um amigo para passar o final de semana a beira de uma linda praia em pleno verao. Recusou tambem o pedido do pai para acampar num lugar paradisiaco. Estava mesmo determinado a ver a menina, chamada Maggie. Segundo ele trata-se de sua melhor amiga "menina", mas ha quem diga que sao namorados rs.
Ela e sua familia ja se mudaram para New York semana passada, mas voltaram no final de semana para buscar alguma mudanca, e amigos queriam vizita-la. Estavam todos empolgados em reve-la.
Sabado pela manha, levei Hyuri a casa de um amigo (Cristian), e dali seguiriam para o encontro entre amigos, todos adolescentes.
Fomos entao, eu, minha mae, e meu maravilhoso cachorrinho Henri, leva-lo. Depois fiz algumas coisas que deveria fazer enquanto estava fora, e voltei para casa, foi quando horas depois o telefone tocou:
- " Boa tarde, aqui e do departamento de Policia, e gostaria de falar com a mae de Hyuri".
- Sou eu, o que houve?(juro que pensei que fosse trote das criancas).
- "Ele sofreu um acidente e esta sendo encaminhado para o Hospital de Framingham".
GELEI...
-Ah????Como assim?!!!.
Segui entao em direcao ao hospital, bastante assustada. Tive duvidas se haviam me escondido alguma verdade terrivel. Meu coracao estava na boca. Quem e mae sabe do que falo.
No meio do caminho pensava mil coisas, e tive medo, muito medo, de me tornar como algumas de minhas amigas de dores, que passam pelo pesar de terem devolvido mais de um filho a Deus. Oh ceus!
Na recepcao do hospital perguntei pelo meu filho, e recebi a noticia de que a ambulancia ainda nao havia chegado. Possivelmente me ligaram quando ainda se dirigiam para o local do acidente.
Fui esperar pela ambulancia fora do hospital quando vi um jovem rapaz ao celular ali paradinho, escorando-se em suas muletas, e com uma das pernas engessadas.
O rapazinho me cumprimentou, e enquanto aguardava a ambulancia iniciamos uma rapida conversa.
Contei a ele que se aproximava a data de aniversario do acidente de meu filho Hugo, que esta com Deus, e que agora aguardava saber o que havia acontecido com meu filho Hyuri.
O rapazinho por sua vez me disse algo tao verdadeiro. E interessante como , algumas vezes, pessoas tao mais jovens, e tao menos experientes, conhecem as maiores verdades.
Ele disse-me : " Quando perdemos alguem que amamos muito, passamos a viver em funcao dessas lembrancas. Desses sustos". Passamos o resto de nossas vidas, com medo de revivermos tudo de novo.
Sorri tentando imaginar como um menino ainda, soubesse tal verdade, que em tantas ocasioes vemos que idosos ainda nao compreendem, ou ate nunca compreenderao. Por isso nao respeitam dores alheias.
- Qual e a sua idade?- perguntei.
-"22 anos".
Pensei- tem a idade de meu filho Hugo quando faleceu, e do meu filho Hygor atualmente.
Logo o telefone dele tocou, era alguem que nao conseguia ir busca-lo naquele momento, por alguma razao. Ele entao iniciou uma chamada para um servico de taxi.
Olhei para os lados e nao vi sinal de ambulancia.
Perguntei aonde morava o rapaz, e verificando que era perto, decidi leva-lo para a sua casa.
No caminho obtive a resposta de sua sabedoria, do seu conhecimento da dor. Ele ja havia perdido um irmao gemeo, via atropelamento,aos 14 anos de idade.
Entao ele falou de seus sentimentos naqueles dias, e dos seus sentimentos atuais.
Contou-me que na ocasiao, se sentiu culpado.
Fui discreta e nao perguntei-lhe porque sentiu culpa. Mesmo porque, sei que "a culpa" e um sentimento comum do luto.
Todo luto tem culpa. As vezes a culpa procede de coisas tolas, ou ate de coisas inexistentes.
Uma de minhas amigas de dores, certa vez, contou que sentia culpa, porque no dia em que seu filho de 15 anos foi baleado e subiu ao ceu. Ele a perguntou: " Voce me ama, mae?". E ela nao respondeu.
Nao respondeu porque nao o amava, pelo contrario, era seu unico filho, e muito querido, mas porque ela sabia que se tratava de uma brincadeira dele, e ele passava o dia perguntando: "mae, voce me ama?". So para encher a paciencia dela mesmo rs.
Mesmo sabendo disso a culpa ficou baseada nisso. Culpa por nao ter gritado em resposta: " TE AMO, FILHO DO CORACAO!".
Hyuri de minutos em minutos quando esta em casa me grita: "MAEEEEEEEE, VOCE ME AMA???". E as vezes impaciente, porque enche mesmo a paciencia, e tambem sei que a intencao dele e me torrar , mesmo assim respondo, tambem gritando: " SIM, TE AMOOOO!!!.
Faco isso para fechar quaisquer brecha de culpa, acaso Deus tomar decisao contraria a minha um dia.
Chegando ao nosso destino, ele desceu do carro, e foi em direcao a uma mulher que o esperava, tambem com um celular na mao, acho que era a sua mae.
Olhei rapidamente para ela, e por alguns instantes enquanto voltava ao hospital tentei imaginar no susto que aquela senhora tambem tomou quando , esse filho, se acidentou, depois que ja havia perdido um filho.
Tao iguais, e tao diferentes...
Nos maes orfas, podemos nunca ter nos visto antes. Jamais termos trocado uma palavra uma com a outra, mas conhecemos os sentimentos uma das outras profundamente. Muito mais do que quem conviva conosco.Apostem nisso, que nao perderao!
Voltei ao hospital , e a recepcionista me indicou o quarto que Hyuri estava.
Pensei em entrar na enfermaria com os olhos fechados. Assim nao veria como ele estava, ao mesmo tempo sabia que isso nao seria possivel. Entao de olhos abertos pensei : "Nunca poderemos deixar de encarar a realidade, seja ela qual for".
Ao me ver, Hyuri estendeu sua mao direita para mim e fez mencao de chorar. Foi ate engracadinho, parecia um bebe.
Ele caiu de skate. Foi uma queda feia, seu pe visivelmente estava quebrado, mas gracas a Deus nao foi fratura exposta. Apesar de que estivesse mesmo feio . Notava-se a olho nu, que os ossos nao estavam no lugar correto.
O ortopedista entao, depois de alguns exames, me comunicou que ele seria encaminhado para Boston.
Puxa! Ai sim, fiquei assustada. pois sabemos que quando enviam um paciente para Boston e porque a coisa foi realmente feia.
Chamei o ortopedista a parte, e perguntei, enquanto uma moca ja tomava procedimentos da transferencia.
- Porque ele sera encaminhado para Boston? Porque nao a clinica ortopedica aqui de Framingham?
Foi quando ouvi uma grata noticia, dentro daquelas circunstancias. Ele explicou-me, entao, que assim estava sendo feito, porque era sabado, e a clinica local nao tem com o hospital local, um acordo para transferencia de pacientes. Talvez porque, nos finais de semanas, trabalhem menos medicos, e existem maior demanda de pacientes, talvez...nao sei, mas fiquei mais despreocupada.
Durante o tempo que estivemos ali, aguardando por outra ambulancia que nos levaria a Boston, foi inevitavel que meus olhos vagassem ao redor e me transportasse a outras ocasioes que estive ali acompanhando um filho...meu filho Hugo.
Observei algumas atitudes diferentes dos enfermeiros, do movimento do local.
A porta do quarto permanecia aberta...
Lembrei-me que nunca ela estava aberta quando eu acompanhava Huguinho.
Em frente a porta, sempre havia um ou dois segurancas monitorando-nos dentro do quarto.
Observei tambem, que meus sentimentos eram diferentes. Eu estava mais tensa, mais confusa, mais sofrida, mais desesperada...
Meditei por algum tempo sobre isso, ali quietinha com meus pensamentos.
A ambulancia chegou, e paramedicos levavam Hyuri numa maca, e eu seguia atras.
Fui ao lado da motorista, e Hyuri permaneceu atras com um profissional da saude.
No caminho, fui observando o quanto aquela mulher dirigia bem. Nao deixei de lembrar-me que alguns homens tem o habito de acreditarem que as mulheres dirigem mal rs.
Que banho aquela motorista dava na maioria dos homens, com sua posante ambulancia abrindo caminho em direcao a Boston.
Logo , como aquele jovem rapaz em frente o hospital me falara sabiamente, os Flashbacks voltaram. Sao de fato inevitaveis!
Minha mente voltou ao passado, e recordei-me da primeira vez que eu estava naquela mesma situacao ,com meu filho Hugo.
Eu , ali, ao lado de um motorista de ambulancia, e Hugo atras com um paramedico.
Olhei ao redor e meus olhos puderam ver o "silencio". Havia silencio no recinto.
Nao...nao era assim, quando se tratava de Hugo. Havia um certo "tumultuo" no caminho.
Meus sentimentos tambem eram completamente diferentes, porque eu nao sabia aonde estava doendo. Nao havia um pe quebrado. Nao havia um orgao de seu corpo que eu , ou outra pessoa pudesse tocar e perguntar: " Esta doendo aqui?".
E sao essas incertezas de quaisquer doenca de ordem mental, que confundem quem convive com as vitimas , os pacientes.
Tais confusoes, questionamentos, incertezas, vontade de curar, de ajudar, de fazer alguma coisa, que provoca em nos, tambem muita turbulencia mental. Em nos, que amamos aquele paciente. Certamente nao acontece o mesmo com os profissionais de saude em relacao ao paciente psiquiatrico.
Por isso, na vez de Hugo, nao havia silencio dentro da ambulancia. Todos os recintos eram confusos, agitados, cheios de questionamentos. O proprio paciente se pergunta: " O que e isso?!. O que esta acontecendo comigo?".
A alma grita! E talvez seja a alma que doa. mas como engessar uma alma, e coloca-la no lugar que deve estar?!
Entao ali dentro, seguindo em direcao a Boston, entre Flashbacks de tudo o que vivi, e de tudo que meu filho Hugo viveu em varias ocasioes, m'alma comecou a doer tambem.
Por alguns instantes senti um certo desespero, e acho que ia, como dizem os mais jovens "pirar". mas fui salva pelo congo!. Minha bexiga apertou, e nao consigo pensar em mais nada, quando estou com a bexiga cheia, somente em banheiros.
Dali por diante fui pensando num lindo e formoso banheiro ate chegarmos a Boston.
Ja no hospital de Boston, no departamento de pediatria ortopedica de um grande hospital. Fiquei encantada com o excelente atendimento de medicos e enfermeiros, sempre sorridentes para todas as criancas.
De certa forma, eles pareciam estar achando engracado que Hyuri tivesse levado um tombo de skate. Como se pensassem : " Que moleque! Eu tambem ja fiz isso!".
Hyuri tentava ser o mais forte possivel. Parecia um bravo guerreiro.
Fomos entao notificados que ele teria que operar, ate que um ortopedista sugestionou uma tecnica meia estranha, mas parecia funcionar.
Dariam entao, uma anestesia local, e aplicariam morfina no meu filho. Assim um medico colocaria com as maos o pe na posicao correta, e outro medico engessaria.
Hyuri concordou que assim fosse feito, perguntei se ele tinha certeza disso, e ele disse que sim.
Apesar da idade, Hyuri e um adolescente muito ciente do que quer, e confio nele.
Deram a anestesia local e a morfina injetada no soro , que ja estava aplicado e sua veia.
Depois do efeito, os medicos vieram comecar o procedimento. Hyuri segurou minha mao, e a medida que apertavam o seu pe, ele apertava a minha mao, e fazia uma carinha muito engracada, porque teimava em demonstrar uma forca nao tipica de uma crianca, mais de um homenzinho.
Eu tambem nao olhei para o procedimento. Eu e Hyuri olhavamos um para o outro . Outras vezes cerravamos os olhos, e enquanto isso eu orava. Acho que ele tambem orava enquanto estava de olhos fechados.
Depois que engessaram, ele disse que sentia alivio com os ossos no lugar.
Escolheu um gesso de cor verde.
Bem, mas depois de uma nova radiografia, chegaram a conclusao que poderiam conseguir um trabalho mais perfeito. O medico mostrou-me a radiografia, e eu podia ver, que faltava ainda um pequeno espaco entre um osso e outro, que poderia ficar mais proximo .
Ah, la vem eles retirar o gesso para fazerem o processo novamente. E novamente aplicaram anestesia local, e mais morfina.
Novamente Hyuri segurou minha mao, e fez novamente aquela carinha de homenzinho forte, que aguenta tudo.
Pronto, engessaram, e dessa vez, Hyuri preferiu gesso de cor natural e disse:
" Ja tenho cor de abobora, roxo, verde, e agora quero um branco".
Entao o medico perguntou: " Vc ja quebrou o pe antes?".
Sim, ja, no mes de Junho. Dois meses atras.
E o medico recomendou que ele nao usasse mais skate e pensasse em praticar outro esporte. Foi quando ele disse que nao pretendia mais brincar de skate, mas seu olhar, enquanto falava, estava posicionado em direcao a TV que mostrava um show de outros jovens descendo e subindo rampas em seus skates.
Quando os medicos sairam do quarto,ele me garantiu que de fato, nao pretende mais brincar de skate. Da outra vez nao havia sido tao grave a queda.
Conversei com ele, e o expliquei que poderia ter ficado paralitico, e ele entendeu a mensagem.
Depois da ultima radiografia daquela noite, chegaram a conclusao que o trabalho ficou perfeito. Entao daqui a uma semana, voltara no mesmo hospital para nova radiografia, e depois entao verificarem, se de fato nao precisara de cirurgia.
Ja de alta, e enquanto aguardavamos meu irmao que ia nos buscar com meu sobrinho. Hyuri segurou novamente a minha mao, e eu fechei os olhos, acariciando seus dedos e pensando: " Meu Deus, como e bom sentir um filho vivo! Como e bom sentir que no corpo de um filho ha vida! Ha sangue circulando. Ha calor!".
Novamente minhas lembrancas voaram...
Lembrei-me que nem sempre conseguia segurar nas maos de Hugo quando internado. Algumas vezes ele estava agitado demais! Levantava e sentava, e deitava com muita rapidez.
Fiquei imaginando que eu deveria ter segurado sua mao a forca para , agora , poder lembrar de mais momentos que fiz isso.
Em meios aos meus pensamentos, resolvi deixar Hyuri no quarto e ir a frente do hospital, para que meu irmao me reconhecesse assim que chegasse ali. Ja que nunca havia estado naquele hospital.
Do lado de fora, havia um senhor com um aspecto preocupado.
Ele me disse que sua filha estava internada, e que havia risco de perder o filho que esperava.
Conversamos por alguns minutos. Falamos de Deus e de fe. Pareceu-me um bom homem. Prometi orar por sua filha e seu netinho.
Somos assim, pais e maes, sempre vivendo em funcao de nossos filhos... sempre preocupados com tudo que fazem.
Meu irmao chegou, e eu e meu sobrinhos fomos para dentro do hospital para buscarmos Hyuri, que seguiu a nossa frente carregado por uma enfermeira numa cadeira de rodas, ate o carro.
No caminho revi uma chinesa que volta e meia entrava na enfermaria para retirar os aparelhos medicos que, os medicos deixavam para tras durante os procedimentos, e lhe disse: "xie xie".
Ao que ela exclamou: " Uau, voce sabe!".
Entao lhe contei que tenho uma amiga chinesa, que nao fala ingles, e eu tambem nao falo chines, mas que sempre que faco-lhe algum favor ela diz " xai xai", e eu imaginei que estivesse dizendo "obrigado".
Ela sorriu e disse que estou certa. Que de fato ela esta me agradecendo.
As vezes a amizade funciona assim . Nao precisamos falar a mesma lingua. Basta sabermos sorrir, sermos educados, e dizermos "obrigado".
Outras vezes falamos a mesma lingua de alguem, mas nao ha mais sorrisos, educacao ou trocas de boas palavras .
Palavras como , " Desculpe-me ou obrigado".
Ja em direcao a nossa casa, eu, meu irmao, meu sobrinho Gabriel, e Hyuri dentro do carro, meu celular toca.
TRIM TRIM.
E minha mae ordenando : " Traz acucar que acabou!".
E a vida continua...rs

0 Comments:

d