Mae! Eu ja li a Biblia toda varias vezes. E a conclusao que cheguei e que a missao de todos nos, aqui na terra, e amarmos uns aos outros!
HUGO MAGNO DE BARROS GIUBERTI
Desceu a terra em 10/09/85 e Subiu ao ceu em 20/08/07

domingo, 9 de dezembro de 2007

NO AEROPORTO DE GUARULHOS


21 de Agosto de 2007
Recebo a noticia que deveria chegar ate a Sexta-Feira. O enterro e velorio nao aconteceria antes do Sabado. Consegui o adiantamento da passagem, desde que fosse pela TAM. Uma vez que dias antes aconteceu um terrivel acidente com um aviao dessa companhia e por isso haviam varios lugares disponiveis para o dia 22 de Agosto as 4;20 da tarde.
Nesse momento todo o meu medo de voar pela TAM desapareceu. Ainda que tivesse que passar por Congonhas na escala em que trocaria para o voo internacional. Congonhas estava um caus. Toda a aviacao brasileira estava um caus naqueles dias, devido ao acidente e as falhas descobertas em varias pistas.
O voo internacional sairia de Guarulhos. Se bem que eu nao estava me importando com isso. Tanto fazia se iria por Congonhas, Garulhos ou ate pendurada num aviao qualquer. O que eu queria mesmo era chegar e olhar para ele e ter certeza de que era ele. Ainda tinha a esperanca de que nao era. Afinal Hygor nao tinha idade para ser autorizado a reconhecer o corpo. Minha mae sequer sabia ainda. E meu irmao Joselio estava emocionalmente desconcertado. A ligacao de meu irmao e Hugo foi muito estreita. Uma ligacao de filho e pai, e pai e filho. Tanto que foi Joselio que providenciou todos os tramites legais para o velorio e funeral ate mesmo financeiramente. Nem sei como ele conseguiu fazer isso no estado emocional em que estava.Mas buscou forca em Deus e fez.


22 de Agosto de 2007, a noite.
Ja estava em Guarulhos e sozinha. O voo nacional foi tranquilo, pois foi rapido. Na verdade eu estava agindo exatamente como agi no dia em que fui buscar Hugo na Florida ao meu encontro. Eu me preparei emocionalmente para agir como um robo. Nao demonstrar emocoes e nao cometer nenhuma falha que pudesse alterar meu raciocinio ou minha saude.
Eu nao poderia de maneira alguma entrar em crise ali. Todos os tickets de viagens, passaportes, dinheiro, tudo teria que estar sempre em maos e qualquer lapso poderia perde-los. Ainda estaria numa cidade que so conheci como o lugar em que o corpo de uma irma de 13 anos foi enterrada. So de ouvi falar.
Nunca andei pelas ruas de Sao Paulo. Jamais havia pisado em solo paulista. Tudo me era estranho ali. Bastaria trocar de aviao e voar ate USA. Pretendia entrar no voo internacional, tomar um xanax e dormir. No entanto o obvio aconteceu. Devido ao caus os voos estavam todos atrazados. passei horas dentro do aeroporto sentindo uma angustia interminavel. Ali, o tempo de espera foi fatal para que a realidade me viesse a tona e me combatesse. Foram horas de agonia dentro do aeroporto de Guarulhos esperando um voo para voltar.
Entao sentei-me do lado de fora do aeroporto apenas com uma mala de mao. Havia deixado todas as malas que levei para tras, para que nada me impedisse de perder tempo no aeroporto, ou me confundisse por causa da situacao.
Sentada entao lembrei-me daquela sensacao que senti quando vi meu filho pela ultima vez. Aquela que narro a 3 postagens atras, acho, o que senti quando saia do hospital e parei. Uma sensacao estranha que fechava meu coracao e eu tentava identifica-la sem sucesso. Lembrei-me entao de minha irma Josemara Belo de Barros, falecida no ano de 1985 por causa de uma subita hidrocefalia que surgiu do nada na adolescencia, sendo comum somente na idade infantil. Fiquei ali sentada olhando para o nada e recordando dela ate que cheguei a lembranca do ultimo instante que a vi.
Foi quando ela sentou-se em minha cama quando eu ainda estava de resguardo e pediu para segurar no colo o unico sobrinho que ela conheceu...Hugo. Hugo nasceu apenas dias antes de Mara, minha irma, viajar para Sao Paulo para fazer uma cirurgia na cabeca. Ela sentou-se em minha cama, pediu para segura-lo. Me entregou novamente Hugo em meus bracos e me abracou. Em seguida viajou enquanto eu esperava o pai de Hugo que havia prometido levar-me para despedir-me dela na rodoviaria.
Lembro-me bem de minha mae dizendo: "Vamos Mara, ele nao vem".
Fiquei olhando as duas andando com uma grande mala nas maos ate sumirem de minha vista. Ele nao voltou. Estava naquele tempo ja namorando com a mulher pela qual mais tarde tornou-a madrasta de Hugo.
Eu queria muito ter ido a rodoviaria com minha irma. Ela tinha somente 13 anos e desde os 4, depois que meus pais se separaram ela dormiu comigo por muitos anos. Era nossa irma cacula.
Quando terminou de me abracar eu perguntei: Mara, voce e feliz?. Ao que ela me respondeu: "Sou ne, mas eu nao posso estudar porque nao enxergo". A doenca ja tinha afetado a sua visao e outros orgaos de seu organismo. Mara ja havia perdido a coordenacao motora parcialmente, ja havia ficado totalmente cega, tinha escoliose e mesmo assim desceu longas escadas, ladeiras e andou ruas segurando uma grande mala, pois minha mae tem uma deficiencia na perna. E eu fiquei ali, esperando um dia o pai de Hugo voltar para casa. Ou esperando tanta gente que dizia amar o Hugo surgir de algum lugar para irem me consolar. Ate porque tudo que afetava a mim, com certeza, afetaria Hugo. Era apenas um recem nascido que ainda amamentava.
Ali sentada de frente ao aeroporto de Guarulhos, era inevitavel que eu recordasse de tudo isso. Sim, havia acabado de falecer aquele que Mara segurou no colo no ultimo momento que nos tocamos...identifiquei ali, naquele momento, em frente ao aeroporto de Guarulhos que sentimento estranho foi aquele que senti no ultimo abraco que dei em meu filho. Era o mesmo...o mesmo que senti quando abracei pela ultima vez a minha irma.
Uma sensacao intensa de nunca mais...

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