Mae! Eu ja li a Biblia toda varias vezes. E a conclusao que cheguei e que a missao de todos nos, aqui na terra, e amarmos uns aos outros!
HUGO MAGNO DE BARROS GIUBERTI
Desceu a terra em 10/09/85 e Subiu ao ceu em 20/08/07

sábado, 8 de dezembro de 2007

SIPNOSE DOS FATOS



VITORIA. ES
Julho de 1992

Saio da capital do Espirito Santo para tentar a sorte na terra do Tio Sam. Na verdade a estava bem decepcionada com muita coisa que vivi no Brasil. Uma crise pessoal, acho.
Depois de 15 anos fora, finalmente retorno para ver irmaos, meu pai, parentes, amigos chegados que a distancia nao diminuiu o carinho e amor.
Ano passado cheguei a ir, mas foi tao rapido. Ninguem que passa 15 anos fora do lugar aonde nasceu e cresceu consegue assimilar tudo em tao pouco tempo. Ficamos tontos.
Ainda me lembro que pedi ao taxista para passarmos pela rua em que nasci e cresci. A achei tao estreita. Tive a imprensao que os moradores chegaram as suas casas para frente. Nao...nao foi isso. E que as ruas aqui sao sempre bastante largas comparando-as com as ruas do Brasil. A emocao era muito forte.
No dia em que fui em Agosto de 2006. Hugo e Hygor me levaram ao aeroporto de Boston. Estavam sorridentes e empolgados. Quando meu voo foi chamado Hugo chamou me chamou: "mae".
Olhei para tras e vi seu sorriso timido. Um dos seus variados tipos de sorriso. E ele continuou: "Volta logo hein mae. A ultima vez que te vi entrar num aviao so te vi anos depois". Hugo se referia ao ano de 1992. Quando me viu entrar num aviao para emigrar com a intencao de traze-lo logo depois para perto de mim. O que ele nao sabia e que por todos os anos em que estivemos ausentes um do outro , a sua voz infantil ecoou por durante todo o tempo em minha mente: "Tchaaaaau mae". E era justamente essa voz que me dava forcas para prosseguir ate que anos depois Deus abriu as portas que o trouxeram aqui, para perto de mim, sua mae amada.
No ano passado as coisas funcionaram mais ou menos normal nesse periodo de ferias. Hugo sofreu varias oscilacoes no periodo que estive por la, mas nada muito grave. Ja havia percebido que minha viagem ao Brasil era o motivo maior dessas oscilacoes, ainda que as tivessem tambem nos periodos em que nao sai de perto dele. Ele ficou mais aflito quando viajei. Uma circunstancia emocional.

Janeiro de 2007.
Janeiro de 2007 sofro as consequencias mais seria de uma depressao que me abateu em 2005, depois de muitas oscilacoes de Hugo e outros problemas de ordem pessoal. A pressao era realmente muito forte. Dessa vez acompanhou um quadro de agorafobia, alto grau do ataque de panico que ja havia desenvolvido desde o ano de 2005, mais precisamente no mes de marco. Fui internada entao na mesma clinica que Hugo em crise era internado. Ali, de dentro pude ver o quanto ele era bem tratado. Um lugar realmente excepcional. Nao fico por la muito tempo. Tinha muitos compromissos fora e pedi uma reuniao com os medicos para convence-los a me liberarem. Quando eram abordados por mim nos corredores da clinica e eu pedia para me darem alta sempre respondiam: "Quando lhe ver sorrir lhe dou alta".
Na reuniao foi muito dificil convence-los de que estava bem. Minha arma foi reclamar que eu mesma optei por ser internada, portanto tinha responsabilidade o suficiente para saber quando podia voltar para casa.
O medico reclamou que muitos que entram ali com sintomas severos de depressao dizem que estao bem com o proposito de sairem e tentarem suicidio. Por isso, meu filho Hygor se responsalibizou por mim garantindo que nada iria me acontecer e recebi alta hospitalar.

Marco de 2007
Hugo ja nao morava comigo. Nos mudamos em Dezembro de 2006 quando Hugo decidiu permanecer no mesmo condominio com amigos. Foi a primeira vez que o vi realmente bem desde quando adoeceu em 2002. Ele sentou-se comigo logo quando mudamos e contou-me que chegou a conclusao que com 21 anos ja tinha idade para nao depender em nada da mae, e que pretendia continuar morando no mesmo condominio com amigos. Era um condominio realmente agradavel para jovens. Possui quadra de tenis, de basquete, um lindo campo de golfe ao lado , um morro alto que em epoca de neve poderiam esquiar. piscina quente e comum, sauna e tudo o mais que um jovem podia querer. Moramos ali por 3 anos, ate que decidi me mudar para uma casa.


Achei a ideia otima. Adoro criar filhos que se tornam logo independentes. Hugo sempre teve mesmo esse espirito e dentro da cultura americana e incomum que filhos de 21 anos permanecam com os pais. Soa "babacas" para os colegas. Digo entao a Hugo que faria uma copia da chave para ele. Se acaso ele nao se desse bem por la que poderia voltar.
Em marco de 2007 Hugo vem ate minha casa para uma vizita. Percebo entao que ele estava numa fase maniaca da bipolaridade em grau crescente . Observo que dentro do carro mantinha ainda muitas coisas que deveria ja estar dentro do apartamento que morava. Tento convece-lo a ficar, mas Hugo ja esta dentro da crise e ja havia perdido a nocao do certo e errado.
Consigo mante-lo por perto dias depois. Mantenho em nossa casa. A crise ja havia se avancado a tal ponto que Hugo se tornava talvez perigoso. Sua nocao da realidade, de perigo e de senso de certo e errado ja haviam saido de sua mente. Tento interna-lo e Hugo rejeita. Nesse ponto nenhum deles se consideram doentes. Sempre vao acreditar que os outros ao seu redor e que estao.
Na luta para interna-lo Hugo chama a policia para mim. Assim que a policia vem a nossa casa percebe que ele nao esta bem. Chamam-me num canto e perguntam se quero que o levem a forca a um hospital, mas Hugo nunca aceitaria isso, e sempre tive medo de afligi-lo. Disse que nao, que ele estava bem em casa.
Eu queria que fosse ao hospital, mas nunca aceitei que fosse a forca. Pra Hugo isso seria o fim da vida. Se passasse por esse tipo de coisa ja teria morrido antes.
Prossegue a saga dentro de casa. Meu filho menor Hyuri, de apenas 11 anos , diz: "Mae, voce precisa chamar a policia , mae. E para o bem dele".
Aqui em USA, a policia responde a qualquer chamado emergencial, e sao eles que vao diagnosticar que tipo de emergencia e necessaria. Sao treinados para qualquer eventualidade.
Chamei a policia que o convenceu a entrar no meu carro e seguirmos ate o hospital. Eles tem tecnicas para isso sem usar a forca se quiserem. A nao ser que a pessoa corresponda a um serio perigo a si mesmo ou a outros podem usar a forca. A partir do momento que alguem diz: "E um perigo". Entao o individuo pode ser internado a forca. Isso nunca aceitei. Para uma mae e dificil aceitar isso. Ver o seu filho dominado por outros homens.
Chegando ao hospital, ficamos a noite inteira com medicos , psicologos avaliando Hugo. Pela manha o internaram, mas felizmente e infelizmente nao havia vaga na clinica que habitualmente era internado. Dessa vez e pela primeira vez Hugo iria ser internado em outra cidade.
Voltei para casa para descansar, e mais tarde fui ate a cidade de Westwood visitar Hugo. Ele estava realmente mal. Estava pessimo. Nunca o vi tal mal.
O lugar era horrivel. Tambem nunca vi um lugar tao horrivel.
Hugo permaneceu ali por dois meses talvez.
Nesse meio tempo uma advogada me ligou pedindo o meu comparecimento a uma audiencia. Segundo ela a lei dizia que depois de um certo tempo de internacao, o estado entrava com um advogado automaticamente a favor da alta do paciente, e os medicos teriam que provar que tal paciente nao estava apto a sair. Segundo ela tambem Hugo poderia permanecer ate um ano ali se eu nao comparecesse a audiencia.
Desde o mes de Janeiro de 2007 eu nao estava apta a dirigir. Havia levado Hugo na emergencia de um hospital que ficava apenas uma rua depois da minha , mas dirigir para longe era impossivel, afinal eu estava dentro de um ataque de agorafobia e quem sabe o que e isso , sabe que e impossivel dirigir, principalmente com tantas pressoes assim. Oras, mas ela havia me dito que se eu nao fosse ele poderia ficar ate um ano ali hospitalizado. Eu de maneira alguma permitiria isso!. Por outro lado sabia que ele nunca havia tido uma crise tao seria como essa.
Meu irmao e eu haviamos vizitado-o juntos e ja haviamos chegado a conclusao de que ele precisava ser transferido de hospital antes que voltasse a si, pois acreditavamos que se voltasse a si e se visse naquele lugar tao horrivel iria entrar em choque. Como entao o deixariamos la por um ano?
Tentei me preparar psicologicamente para dirigir por muito tempo. Westwood nao e um lugar tao perto assim de onde moro. Suava frio, me senti desesperada com a possibilidade de ter que ir ate la dirigindo e sozinha. Foi um tormento. Meu coracao disparava. Meu corpo suava. Eu em pleno ataque de agorafobia, mas precisava ir la pra tentar fazer alguma coisa pelo meu filho.
Pela manha entrei no carro do proprio Hugo e devagar cheguei ao meu destino. La ja me esperavam medicos, advogada e juiz. Uma burocracia de hospitais.
Durante a sessao a advogada teria que falar por mim e tentava convencer o juiz a liberar Hugo, que sentado a minha frente tentava a todo custo demonstrar normalidade, mas a sua grande ansiedade, e uma crise forte maniaca nao permitiam. Hugo estava visivelmente ansioso e tinha que permanecer sentado porque queria muito sair dali. Suas expressoes faciais eram literalmente a de uma pessoa que tentava permanecer quieto e nao conseguia. Algumas vezes me olhava com odio acreditando que estava bem, e que eu era quem nao estava.
Durante a conversa entre medicos e advogada , olhando fixamente para Hugo pra tentar mante-lo calmo. As vezes ele rapidamente ficava sobrio , rapidamente saia de si. Conhecia todos os olhares, gestos e posicoes do corpo dele que expressavam quando estava normal e quando nao. Dentro desse drama ouvi a medica falar uma palavra diferente da costumeira: BIPOLAR. Ah? Bipolar?
Como assim? Pensei eu.
Ficou decidido na audiencia que Hugo teria que ficar por mais algumas semanas e so. Na cafeteria eu medicos e assistentes sociais conversamos sobre a audiencia. Contei a medica que me apavorei com o argumento da advogada sobre o 1 ano que ele teria que ficar ali. Ela e os assistentes sociais me garantiram que a advogada tentou me coagir, pois isso e impossivel, uma vez que e proibido por lei manterem um paciente hospitalizado quando ja esta em seu perfeito estado fisico ou mental.
A conversa foi agradavel, mas o que me chamou a atencao durante a audiencia foi a palavra BIPOLAR.
Foi a primeira vez que ouvi um diagnostico com tanta certeza. Por isso digo que felizmente ele foi internado ali. Aquela foi a primeira vez que uma equipe medica arriscou um diagnostico com certeza. A palavra era Bipolar.
Como assim doutora, como bipolar?. Bipolares nao tem depressao?. Hugo nao tem depressao.
Ela tambem sabia disso. Afinal estava lidando com ele a mais de um mes e e medica, e assim me explicou que existem varios tipos de bipolaridade, e falou especificamente da mania, estado euforico constante em que Hugo vivia. O que chamamos de mania plena.
Justamente o contrario da depressao, mas corresponde tambem em risco, uma vez que nessa fase o individuo sofre de um espirito de grandeza incomum, alem de um estado de euforia que pode coloca-lo em riscos. O seu julgamento nao e correto. Nao consegue perceber se esta agindo corretamente ou nao. Se nao e, e quase o que chamamos de sindrome do super homem.
Hugo foi medicado com Lithium. O remedio que mais deu certo com ele ate aquele momento. Saiu do hospital perfeita. Muito bem
Quando foi internado em Westwood. Eu novamente estava com viagem programada para ir ao Brasil,ate por recomendacao medica e conselhos de pessoas proximas que viam o meu estado emocional. Suspeitei que inconcientemente ele havia adoecido justamente por causa disso. Nao queria que eu fosse. Nao queria sair de perto. Ao mesmo tempo era um beco sem saida, pois para cuidar dele, eu tambem precisava de ter boa saude mental. E para isso era necessario que eu tivesse ferias de tudo isso que estava vivendo a quase 6 anos.

Junho de 2007.
Decido ir ao Brasil. Hugo estava muito bem com Lithium. Depois que recebeu perfeito diagnostico tudo estava bem. A casa estava bem, os filhos estavam bem, faltava apenas eu cuidar de eu mesma.
Concordando que ele estava bem tentei persuadi-lo a ir comigo, mas Hugo estava empolgado. Afinal era a primeira vez que tomava um perfeito estabilizador de humor para ele e finalmente poderia executar os planos que tanto tinha. Ter uma companhia estabizada e voltar a estudar.
Hugo entao diz que ficaria ate o mes de Agosto, assim teria tempo de ajeitar a faculdade, ja que o ano letivo aqui funciona diferente do Brasil. Ele estava realmente empolgado com a mudanca positiva da vida dele. Nunca esteve tao bem estabilizado emocionalmente.
Cheguei a fazer reserva da passagem junto com a minha, mas Hugo definitivamente nao aceitava ir no mes de Junho ou Setembro. Ele queria ir em agosto. Queria esperar setembro, mes das definicoes da faculdade.
Aproxima-se a data para pagar a reserva. Hugo contudentemente nao quer ir. Pago entao a minha para viajar no dia 18 de Junho de 2007. Eu tambem estava empolgada. A muitos anos que nao viviamos tao bem dentro de casa. As coisas estavam voltando ao normal com a melhora de Hugo. Ele tambem estava feliz porque estava bem e agora poderia executar os sonhos dele. Estava tao bem.

15 de Junho de 2007.
3 dias antes de minha viagem Hygor entao iria se formar. Enquanto nos arrumavamos para irmos a formatura do Hygor que ja estava na escola, observei algumas mudancas de comportamento em Hugo. Ele estava agitado, ansioso, nervoso. Sequer chegamos a tempo de podermos ver a colacao de grau do Hygor. A mania estava atacando e Hugo ficava muito contestaor, sintoma tipico da mania.
Voltamos para casa e eu preocupada liguei para meu irmao. Meu irmao entao conta-me que Hugo nao estava tomando mais o Lithium por algum tempo.
Briguei muito com Hugo por causa disso. Parecia proposital que tivesse escolhido para parar de tomar seus remedios dias antes de minha viagem. Como eu poderia cuidar de eu mesma se ele nao cuidasse de si?
Hugo ja falando meio desconexo conta que parou de tomar a medicacao e que voltaria a tomar assim que percebesse que voltou a adoecer.
Nervosa ligo novamente para meu irmao que conta-me um segredo de meu filho. Um segredo que revelava a razao dele nao querer tomar seus remedios e de volta e meia parar. Coisa que nao revelaria. Entendo entao o que esta acontecendo e tento apoiar meu filho. Cancelo a viagem para o dia 28 de Junho. Unica data que conseguiria naquele ano. Caso contrario teria que esperar o proximo ano, as proximas ferias e esse tempo seria o suficiente para eu voltar ao hospital, e minha casa parar. Afinal nao tenho so Hugo como filho.

3 dias depois, dia 18.
Dia em que viajaria hugo some de casa. Ilucido nas ruas e completamente molhado e visto pelo meu irmao que me telefona contando. Tenta leva-lo ao hospital, mas ele nao aceita de maneira alguma.

Hugo volta pra casa e depois sai. Horas depois meu irmao me telefona dizendo que ele havia ligado de um lugar bastante distante. Ele mesmo nao sabia aonde estava, apenas uma base e o nome da cidade. Eu vou busca-lo. Ja havia colocado as necessidades de Hugo antes dos meus ataques de panico, da minha agorafobia e de minha depressao. Peguei o carro e fui olhando o mapa ate chegar ate a cidade em que ele supostamente estava sem encontra-lo. Sai de casa por volta das 11 horas da manha. Rodei por toda a cidade de Lexington e so fui encontra-lo dentro de um mac Donald's por puro instinto de mae. Eu deduzi que pudesse estar ali.
Ao entrar a atendente perguntou se ele era meu filho. Disse-me que estava ali desde as 6 da manha e nao parecia normal.
Ao me aproximar de Hugo ele estava totalmente paranoico em relacao a mim. Nao queria que eu me aproximasse. Todo o tempo eu tinha receio que terceiros chamassem a policia, pois assim sendo seria dificil evitar que nao fosse internado a forca e isso, como disse, eu nunca aceitei.
Consegui me aproximar trazendo um lanche que comprei ali. Hugo nunca rejeitava uma refeicao rs. Era sempre muito guloso. O coloquei no meu carro. Voltei ate minha casa com ele e o deixei dormindo. Em seguida retornei com uma amiga para tentarmos localizar seu carro que ja havia sido rebocado e localizamos. paguei o reboque e vim dirigindo-o ate em casa.
Ao chegar ja nao encontrei Hugo novamente.
Meu irmao, incansavel guerreiro a quem tinha Hugo como filho, telefona-me de novo.
Encontrou Hugo novamente fora de si na rua. Diz que tinha um plano para leva-lo ao hospital. Ele havia convencido Hugo que era ele quem precisava ir ao medico. Eu deveria ir ate o hospital e encontra-los na porta, e assim o convencer de entrar.
Enquanto esperava por Hugo na entrada do hospital. Meu irmao liga-me novamente dizendo que Hugo havia percebido seu intento e havia descido do carro numa rota de trafego intenso e que estava desnorteado por onde andava, e que eu deveria pedir a ajuda da policia.
Liguei para a policia da cidade de Natick. Mesma cidade que Hugo faleceu dizendo:
"Me ajudem. Meu filho esta fora de si , andando na rota 135 sem perceber os carros a sua volta".
Enquanto ligava e aguardava a ajuda da policia, ia seguindo Hugo trafegando encostada no meio fio. Os carros que vinham na traseira do meu as vezes quase batiam.
Pelo retrovisor via que meu irmao tambem fazia o mesmo, muito preocupado.
Do carro vi quando Hugo atravessou a rua ilucido, fora de si, sem olhar para os carros. Parecia estar em outro mundo, o mundo dele.
Pelo retrovisor tambem vi que a policia se aproximava atras do meu carro. Fiz sinal com a mao para confirmar que se tratava dele. Meu carro o fechou de um lado. O carro da policia de outro. Descemos do carro e argumentamos com Hugo sobre ele ir ao hospital.
Muito inteligente que era me espantei quando ele disse aos policiais: " Voces sabem que e contra lei me levarem a forca, nao e?. Eu estou aqui andando na rua como todo cidadao comum. Nao matei, nao roubei, nao cometi crime algum.".
O policial me chama num canto e diz: "Ele tem razao, nao podemos fazer nada a forca. A nao ser que vc nos diga que ele representa um perigo para voce, ou para ele mesmo".
Qual mae diria que um filho representa um perigo para ela mesma, ainda que as vezes ache isso? Nenhuma, acho...
"Ele pode ser atropelado!. Eu preciso de ajuda para ele tomar remedio. Ele nao quer tomar".

Hugo aceita tomar medicacao na frente do policial, mas nao e o suficiente para que entre no sistema de seu corpo. Quem usa medicacao sabe disso, que e necessario pelo menos uma semana para que tudo volte ao normal.
Meu irmao convence Hugo a entrar no seu carro e o tras para casa, mais tarde conseguimos interna-lo, mas antes novamente Hugo chama a policia para mim alegando que eu estou fora de mim. A policia chega e Hugo ja havia saido. Entao peco ajuda ao policial que diz que nao poderia fazer isso, mas por mim faria, e saem a busca de Hugo que foi encontrado desnorteado, fora de si e falando coisas desconexas ruas apos a que moravamos e ele e internado por livre e expontanea vontade depois da policia o convencer a isso.

Restava uma semana para que eu viajasse. Hugo na clinica recusa-se a usar medicacao. Sou chamada la para convence-lo a assinar papeis autorizando a medica-lo. Aqui nao podem forca-lo a se medicar.
Converso entao com meu filho Hygor sobre ir ou nao ao Brasil nessa situacao. Ao que ele seriamente me respondeu: "mae, voce precisa se tratar. Se voce adoecer vai ser pior. Ele esta hospitalizado, nao vao deixar sair enquanto nao estiver bem. E essa a hora que pode viajar".

Meu ex marido entao diz o mesmo: " Vai, voce precisa ir, eu tomo conta do Hyuri. Voce precisa ir, porque assim os dois se cuidam. Isso tudo esta afetando Hyuri".

De fato Hyuri ja estava sendo afetado ate mesmo na escola. Foram varias e varias noites que nao podiamos dormir com a "mania" de Hugo em evidencia que provoca insonia e o fazia andar durante a noite toda, falar, sair e entrar dentro de casa e nao nos deixar dormir. Houve tempos que ja passamos 3 noites sem dormir junto a ele. Era impossivel que Hyuri conseguisse levantar e ir a escola quando tinha noites assim.
O que minha casa mais precisava em primeiro lugar era a saude mental e fisica daquela que era e e o esteio da familia...eu.

Conversei em sala fechada com medico e assistente social do hospital que aconselharam que eu fosse descansar. Eles tambem me conheciam de quando fiquei internada em Janeiro, no mesmo lugar. Me garantiram que ele so sairia de la quando estivesse bem. Perguntei-os se ele poderia ir ao Brasil em Agosto e disseram que sim, que estaria tudo bem ate la.

27 de Junho de 2007

Como todos os dias fazia, fui vizitar Hugo, mas naquele dia era diferente, afinal viajaria no dia seguinte, alias na madrugada daquela noite ja deveria estar no aeroporto de Boston. Levei para ele um IPOD novo com todas as musicas que ele gostava. Entrei num programa de uma telefonia que nos permitiria conversar como se fosse uma ligacao local. Ou seja Hugo poderia me ligar todos os dias do hospital sem pagar interubano. Entreguei o numero a ele e passamos a tardinha ate a noite conversando.
Ele ja estava praticamente perfeito! Nao estava mais com muita mania, quase branda. Acho que era hipomania, fase branda da mania.
Como sempre diziamos um a outro o quanto nos amavamos. Ele sempre dava muita enfase quando dizia a frase" Eu te amo, mae".

27 de Junho de 2007. 9 horas da noite.
O horario de visita ja se acabava. Hugo foi comigo ate a porta e nos abracamos. perguntei a ele se queria mesmo ir em Agosto para o Brasil. Ele disse-me que podia ate deixar a passagem comprada. Disse-lhe que assim que saisse dali que pegasse um cheque que havia deixado em branco e assinado no cofre e comprasse passagem para ir ver o pai e passar um periodo comigo no Brasil.

Hugo amava muito a nos dois. Eu e o pai dele. Um amor incondicional e visivel para qualquer um que quisesse ver.

Sai do hospital carregando no coracao uma sensacao que nao me era estranha. Ja havia sentido aquilo a algum tempo atras, mas nao conseguia entender. Parei o carro. olhei para tras e pensei em voltar, mas me lembrei que nao me deixariam entrar mais, pois o horario de visita ja havia acabado. Parei o carro novamente e pensei em desistir da viagem, mas me lembrei que ou Hugo tinha que ir comigo, ou Hugo teria que ficar internado enquanto estivesse fora, caso contrario eu deixaria dois outros filhos e minha mae com problemas que nao poderiam resolver sozinhos, como os descritos acima.

Cheguei em casa ainda com aquela sensacao conhecida no peito. Nao sabia do que se tratava , mas fiquei pensativa sobre isso.

Hygor entao me chama para irmos ao Shopping antes que fechasse as 10 horas.
Voltei para o carro no estacionamento de minha casa e aguardei por Hygor. Que ao entrar no carro olhou assustado para a porta de nossa casa e disse: " Ue, quem estava la em casa?". Respondi: "Ue, sua avo e seu irmao, oras".
"nao mae, uma mulher. Eu vi uma mulher sair ali da varanda. Ela saiu de dentro de casa!"
Uma mulher?
Sim, uma mulher. Hygor desceu do carro e voltou a porta e ela estava fechada. Minha mae abriu e disse que nao esteve ninguem ali.
Mae, eu juro que vi uma mulher de branco sair logo atras de mim.
Fala isso nao Hygor, eu vou viajar de aviao. Disse arrepiada.

Acho que 2 semanas depois de minha viagem Hugo saiu do hospital. Voltou a ficar empolgado. O medico retirou o lithium, porque descobriu que desenvolveu-se um problema nos rins de Hugo, possivelmente efeito colateral de medicacoes, mas o Lithium pioraria. Trocou medicacao de Hugo segundo ele mesmo, mas ele nao estava gostando dos novos remedios alegando sentir efeitos colaterais, dores aqui e ali. Junto a isso sua asma atacava muito ja a meses , e apesar de tratada se avancava. Possivelmente o que chamamos de doencas psicomaticas natural nesses casos.
Falavamos todos os dias por telefone. Hugo a essa altura ja queria ir por livre e expontanea vontade ao Brasil, todavia teimava em parar com as medicacoes, o que impossibilitaria usa ida.
Mesmo assim queria-o la perto de mim. Como disse, para que eu descansasse por la, so havia duas saidas. Ou Hugo ficava perto de mim, ou ficava internado. Como nao estava internado, teria que ir.
Nessa altura Hugo percebe que seu passaporte estava vencido e precisava de uma certidao original. Por mais que eu dizesse aonde estava Hugo nao conseguia encontra-la. Por isso disse-lhe que conseguiria uma outra no cartorio que foi registrado e o enviaria por sedex. Liguei para um funcionario amigo meu de infancia que me deu as coordenadas de como fazer e a quem pedir ajuda no cartorio.
Nesse meio tempo Hugo interrompe novamente suas medicacoes. Mesmo tendo me prometido que nao o faria mais. Chegou num estado tao critico que jogou ate seu green card fora. Em seguinda sentindo-se muito mal telefonou para seu amigo Ben que percebeu seu estado e acionou a policia que o encaminhou a uma nova internacao.
Enquanto ligava para minha casa e perguntava por Hugo a minha mae, para dize-lo que havia conseguido falar com meu amigo sobre a certidao. Minha mae preocupada com a ausencia de Hugo, que ja estava novamente internado.
Ben entra em contato com meu irmao e notifica-o que Hugo foi internado. Meu irmao entao liga para os parentes paternos de Hugo pedindo ajuda para que o ajudassem e a mim tambem. Meu irmao ja estava desesperado. Todos nos que estavamos acompanhando Hugo nisso tudo ja estavamos todos perdendo a esperanca. Sobretudo eu e Joselio que tomavamos conta de todas as situacoes que Hugo vivia.
Assim minha mae me avisa que Hugo foi internado novamente. Ligo para o hospital e converso com a enfermeira que diz que ele nao pode falar e que assim que fosse transferido para outro departamento poderia.
Decido entao voltar para USA e ligo para Hygor que me diz: "Mae, nao precisa. Ele esta com medicos, eles nao vao deixar voce tomar a frente de nada de qualquer maneira. Se a coisa ficar pior eu te aviso. Se ele voltar para casa nesse estado ai eu te aviso".
Hugo entao foi transferido para outro departamento, mas ao telefone logo percebi que estava incomunicavel. Ele mesmo nao conseguia conversar direito. Tentei varias vezes ate que consegui falar com ele normal.

18 de Agosto de 2007

Hugo sai do hospital. Eu juraria que ele nao sairia tao cedo. Nao concordei com isso e nem mesmo minha mae. Ele ainda nao parecia totalmente perfeito. Nao estava fora de si, mas estava muito ansioso.
Ligou -me no sabado perguntando pela certidao e muito ansioso para ir ao Brasil. Disse-lhe para ter calma pois ja estava tudo resolvido e que na segunda-feria o enviaria por sedex.
Ele voltava a me ligar sem parar ansioso. Isso era natural dele. Era muito ansioso. Perguntava pelo mesmo sempre e sempre.
Bem, pedi a ele que por favor nao deixasse de tomar os remedios dessa vez.

19 de Agosto de 2007
Hugo novamente liga querendo saber da certidao.
-Hugo nao disse que nao da pra pegar final de semana, o cartorio so abre na segunda. Ja esta tudo pronto.
Mas e que eu quero ir enquanto vc tiver ai, mae.
Filho, eu te espero. Eu espero.
Mas mae, se demorar voce vai vir. Eu quero ir enquanto voce tiver ai mae. Eu to com medo mae. Muito medo, medo mae...
-Medo de que? Porque esta com medo.
-Eu nao sei, mae. Mas estou com medo. Muito medo...tenho medo , mae.
-Filho, voce esta muito ansioso. O importante e que nao pare com as medicacoes senao nao vai poder vir. Fica tranquilo. Ha jeito para tudo, so nao a jeito para a morte. Enquanto voce tiver vivo, ha esperanca.
-Entrega toda a sua ansiedade nas maos de Jesus. Aprenda a fazer isso, Hugo. So Jesus pode segurar a sua cruz. Nem voce e nem eu podemos. Enquanto voce tiver vivo, ha esperanca...

20 de Agosto de 2007

12:40 da tarde , Hugo magno de Barros Giuberti chega ao obito acidentalmente na cidade de Natick, a caminho da casa de seu melhor amigo Ben.
Haviam combinado de comerem Shushi durante toda a tarde, pois ele adorava , e voltarem para buscarem Hygor para irem ao cinema.
Hugo estava bem. No dia 19 conversamos outras vezes por horas depois da conversa descrita acima. Hugo estava bem. Pediu-me desculpas por ter ficado "assim" pela manha, mas e que ele havia deixado de tomar o remedio no horario certo e ficou se sentindo mal, segundo ele.
A ultima palavra que ouvi de meu filho, Hugo, e com muita enfase foi:
"Eu te amo , mae. Eu te amo muiiiiiiiito. Te amo , muiiiiiiito. Muito mesmo. Eu te amo , mae".

Eu respondi com lagrimas nos olhos e escondendo o meu pranto:

"Eu tambem te amo, filho. Te amo muiiiiiito".

0 Comments:

d