Porque "Rompendo em fe"??

Existe um hino chamado Rompendo em Fe, que tem um trecho muito interessante que diz: "Se Deus nao abrir o mar, Ele me fara andar sobre as aguas"
Por muito tempo. UM tempo que parecia infinito tive que conviver com a ausencia de um filho amado. Meu filho Hugo...
Foi quando imigrei para fora do Brasil e deixei-o com minha mae enquanto eu preparava caminho.
Hoje em dia imigrar nao e tao comum a imigracao em massa de um povo . Hoje e mais comum apenas membros de familias o fazerem, mas a anos atras foi isso que os antecedentes do pai do meu filho fez, e os meus tambem fizeram .
Os antecendentes de seu pai Imigraram para o Brasil em grande numero de italianos que aportaram por la.
Meus antecendentes Imigraram em grande numero de portugueses,outros tambem de italianos e outros de orientais ate chegarem a mim.
Imigrar nao e facil. Definitivamente nao e.
Algumas vezes deixamos nao so a nossa historia para tras, mas tambem deixamos pessoas que amamos. Nao deixamos de ama-las, mas seguimos o rumo que Deus preparou para nos.
Os primeiros imigrantes de uma familia. Ou de uma nacao, sempre sao aqueles que sofreram e sofrem mais. Sao eles que desbravam novos horizontes, e pagam o preco da separacao.
Os que descendem de tais imigracao nao carregam tanto peso. Alias nenhum. Se adaptam perfeitamente a nova patria que seus pais escolheram para que eles nascessem.
Sao milhoes de imigrantes de outros paises bem alojados na terra do sol. O Brasil.
Curiosamente, os que descendem dos primeiros imigrantes, nao podem compreender a dor da partida. O peso da saudade. Ou a tristeza de ter que encarar um novo mundo de frente para trazer liberdade para eles num tempo chamado agora.
Imigrantes imigram por varias razoes. Uns fugindo da guerra mundial, outros da guerra civil, e outros das guerras pessoais.
Acho que sou parte daqueles que fugiram da guerra pessoal. Guerra essa que somente quem a vive a pode compreender.
Guerra da vida!
No entanto independente do motivo que leva um povo ou alguem a imigrar. O alvo e sempre o mesmo: Encontrar um mundo melhor. Uma situacao melhor. Um modo de vida que seja adaptavel a si mesmo e aos seus.
A saudade fica... O imigrante se vai.
Com o mesmo desejo de busca dos primeiros povos que imigraram. Sejam eles holandeses, italianos, japoneses portugueses ou de qualquer outra nacionalidade , eu imigrei.
A principio existia a intencao de que uma semana depois, meu filho Hugo estivesse comigo aonde Deus me trouxe.
No entanto por varias razoes alheias a minha vontade e a dele nao foi tao facil assim.
O tempo foi passando. A luta continuando. E depois de varias tentativas frustradas , muita saudade, tristeza, penar, solidao e agonia o tempo continuou passando.
Possivelmente por vontade do proprio Deus. Tinha d'Ele essa promessa. Essa era a vontade de Deus. Porque? Nao sei, mas tambem nunca quis questionar Aquele que e dono da vontade superior.
Ele e Deus! Isso e definitivo. E com Ele nao se pode brigar. Nem se deve...
Aceitei resignada essa vontade com fe, e tambem com carinho. Um carinho dedicado especialmente a Deus.
No final dessa longa estrada. O Hino Rompendo em fe iniciou a ser cantando em todas igrejas.
Eu gostava de canta-lo. Sempre que comecavam a canta-lo, e eu era a primeira a me levantar. Fechar os olhos e cantar com entusiasmo a estrofe que afirmava uma grande verdade: " Se Deus nao abrir o mar, Ele me fara andar por sobre as aguas".
Surpreendentemente um dia Deus abriu o mar. Ele abriu de uma forma milagrosa e ate assustadora.
Antes disso enviou um anjo ao meu quarto durante a noite que me disse claramente:
"Eu vim lhe trazer o que voce tem pedido a Deus!".
No dia seguinte a porta comecou a se abrir.
Ela nao se abriu devagar. Ela foi arrombada!. Foi realmente admiravel ver Deus agindo diante a minha face de maneira tao brava. Tao d'Ele.
Nao foi muito tempo depois que o anjo trouxe-me o recado e me entregou a bencao nas minhas maos durante a noite que eu reencontrei o meu filho...
Em menos de dois meses eu olhava , tocava,beijava e segurava nas maos do meu filho novamente.
Foi um abraco emocionado!.
Ele estava realmente emocionado quando vermelho disse : "mae".
Durante muito tempo , anos, eu nao recebi nenhuma foto de meu filho, exatamente por causa das tais razoes externas alheias a nossa vontade.
Eu nao sabia como ele era mais. Eu vizualizava em minha mente um menino, e tentava memorizar que precisava encontrar um jovem entre milhares de jovens num mesmo lugar.
Olhava por todos os lados. Entrei em varias portas. Sai de varias outras portas , olhando sempre no relogio.
O encontro precisava acontecer ate antes da meia noite. Depois disso possivelmente nao o veria mais. Costumo falar que parece-se com a estoria de Cinderela com o principe. O meu principe...o meu filho.
Nervosa, aflita, ansiosa, mas psicologicamente treinada para nao entrar em desespero, procurei-o olhando para muitas outras criancas no mesmo local.
Faltavam poucos minutos para que o ponteiro do relogio chegasse a meia noite quando eu vi um rapazinho que mexeu com o meu coracao.
Nao...nao era um menino...era um rapazinho.
Eu nao podia acreditar!
Parei por de tras do rapazinho numa distancia ate consideravel, pois tive vergonha que nao fosse ele e ele me achasse louca.
Precisava ficar ali paradinha esperando que voltasse o rosto em minha direcao para que eu olhasse dentro de seus olhos e reconhecesse um filho. O meu filho.
Meu coracao acelarado enquanto meu corpo estava estatalado.
Notei que o rapazinho terminou de encher um copo de chocolate numa maquina e pensei: "Agora ele vai se virar para mim".
MAEEEEEEEEEEEEEEEEE!!!!!
Foi isso que ele disse assim que se virou.
Nao tinhamos tempo de nos abracar ali. Nao podiamos. Logo podiam tirar meu lindo menino de mim novamente se permanecesse aonde estava.
Nao pude abracar o meu filho naquele momento tao saudoso e emocionado para nos dois. Apenas segurei-o pelas maos pensando determinada: " De mim ninguem mais o tira!".
Tirei-o de onde estavamos e agora sozinhos nos abracamos muito....muito....
Ele e eu choravamos abracados , carinhosos e dormimos assim abracadinhos. Eu e meu menino.
Logo que chegamos em casa. No dia seguinte fomos a igreja agradecermos a Deus pela bencao do reencontro.
Reencontro de mae e filho que se amam muito. Que nada e ninguem nunca pode separar.
Nada nunca poderia romper com um amor tao sublime como o da maternidade.
Assim que entramos na igreja. Deus nos felicitou com o mesmo hino que por muitas vezes cantei agradecendo a Deus por me dar fe para passar por sobre as aguas e pedindo a Ele que quando fosse o tempo, segundo a sua grande e poderosa vontade, que Ele abrisse o mar.
Segurei novamente nas maos do meu filho e nos dois juntos cantamos : " Se Deus nao nos abrir o mar, Ele nos fara andar por sobre as aguas".
Foi maravilhoso!
Eu vi Deus agir a meu favor e a favor de meu filho ali diante a minha face. As nossas faces!
Estavamos ali de maos dadas cantando a vitoria juntos!
Volta e meia ele me olhava terno e apertava ainda mais minhas maos cantando junto comigo e sorrindo.
Eu tambem sorria o riso da vitoria.
Algum tempo depois, Deus comecou a preparar o meu menino para subir aos ceus.
Junto a ele , eu tambem fui preparada por Deus para entender quando isso acontecesse.
Anos depois ja estava ficando cada vez mais evidente que a hora estava chegando...
Eu sabia. Eu sentia. Eu podia sentir...
A vida dele estava se apagando pouco a pouco.
Ao mesmo tempo a sua vida espiritual ia se acendendo com velocidade.
Quanto mais ele adoecia, mas servo de Deus se tornava, mais apegado a Deus ficava.
Junto a ele , adoeci tambem.
E impossivel para uma mae nao doer a dor do filho.
Fui minguando junto. Adoecendo junto da mesma dor...
A cada internacao era um orgao meu a mais que ia parando...
A cada crise, a cada sequela. Eu ia padecendo como uma mae que ja estava perdendo as esperancas.
Decidimos entao que ambos deveriamos passar umas ferias no Brasil.
Passearmos, colocarmos algumas coisas em dia, revermos pessoas.
Estavamos nos dois querendo viver uma nova fase na vida. De dar-nos uma nova chance a nos dois principalmente.
Dias antes da viagem, Hugo adoeceu novamente. A viagem estava marcada.
Conversamos sobre isso e fui a frente.
E como a primeira viagem. Aquela quando eu sai do Brasil a previsao e que ele fosse atras de mim depois.
Mas como antes por vontade alheia a minha e a dele. Ele nao foi...
Por telefone conversavamos sempre...sempre. Varias vezes ao dia.
Ele ja estava bem, animado e ja programavamos como iamos fazer para nos reencontrar no Brasil.
Nesse meio tempo Hugo teve uma nova crise. E nela perdeu todos os documentos necessarios para ir ter comigo. Para sair do pais que morava.
Voltando a ficar bem. Ligou-me contando que estava sem documentos para viajar. Um documento importante.
Disse-lhe:
"Calma Hugo, para tudo tem um jeito. So nao existe jeito para a morte".
Lembre-se Hugo. Sempre ha esperanca. Enquanto estamos vivos ha esperanca"
Disse-lhe que na segunda feira providenciaria novamente as documentacoes que perdeu.
Desliguei o telefone e Hugo voltou a me ligar perguntando se ja tinha conseguido o documento.
Estava tao aflito e ansioso que nao percebeu que ainda era o mesmo dia...Parecia perceber.
Desligamos o telefone novamente e foi ali, naquele momento que tive uma sensacao ruim no coracao.
Liguei em seguida novamente para ele e nesse momento tivemos uma conversa entre mae e filho, e filho e mae longa, aberta, clara por muito e muito tempo.
Terminamos com ele dizendo dando muita enfase a frase: Mae, eu te amo. Eu te amo muito, mae, eu te amo demais!
Eu respondi. Eu tambem te amo, filho. Te amo muito. Te amo demais!
Desligamos novamente e meia hora depois liguei de novo.
Tinha alguma coisa para mim fora do lugar. Uma sensacao de desconforto. De saudade do que nao sabe, de quem nao se sabe...
Disse-lhe. Hugo, fique tranquilo. A mamae , amanha, segunda-feira vai resolver tudo. Fique despreocupado. Voce precisa aprender a colocar a sua ansiedade em Jesus. Confia n'Ele.
Ta mae. Entao amanha voce ve, ta?
Ta meu filho, eu te amo muito, ta?
Eu tambem te amo mae, te amo muito!( disse com muito entusiasmo e um sorriso que eu podia ate ver)
Desligamos novamente e mais tarde Hugo me ligou dizendo:
Mae, ve isso mesmo, por favor.
Meu filho, ja disse fique tranquilo. Nao tem jeito de ver hoje, e Domingo. So amanha consiguirei resolver.
Mae, e que eu quero ir enquanto voce tive ai. Se demorar vai dar o tempo de voce voltar.
Nao Hugo, nao vai dar. Eu te espero. Fica calmo. E novamente falei de colocar as ansiedades naos maos de Deus.
Ele era visivilmente ansioso. E isso era um sintoma de sua doenca.
Anoiteceu. Na noite do mesmo domingo e meu coracao comecou a doer. Doia literalmente.
Disse a alguem: " Estranho, meu coracao esta doendo, e doendo muito. Sera que estou com algum problema cardiologico?"
Adormeci...
Amanheci com o coracao ainda doendo muito. Pensei em ligar para Hugo, mas mudei de ideia quando lembrei-me que isso so odeixaria mais ansioso. Deveria ligar somente depois que tivesse conseguido resolver as questoes dos documentos. Assim ele ficaria tranquilo.
No entanto o desejo de ligar para ele era insistente.
Liguei, conversei com minha mae. Ele nao estava.
Peguei a sua foto num porta retrato. Olhei, contemplei. Disse a aquela foto o quanto o amava. Toquei nela varias vezes . E por alguma estranha razao nao quis mais ve-la. Voltou-me a sensacao de saudade de um alguem que eu nao sabia quem. Uma saudade doida. Uma saudade que parecia para sempre...
Deitei-me e fiquei ali refretindo no trem.
E certo que foi isso! Uma outra estranha coincidencia.
Lembrei-me que na minha infancia o barulho do trem que passava por perto me causava uma dor aguda no peito e em seguida vinha uma tristeza muito grande.
Me lembrei de quantas vezes na minha infancia e adolescencia sentei-me na calcada e ali sentia essa dor no peito e essa tristeza sempre que o trem passava la embaixo.
Lembrei-me disso e fiquei meditando nisso.
Era por volta das 11 horas aqui. Nos Estados Unidos quando me recordava disso.
Daquela tristeza aguda que sentia no peito sempre que o trem passava.
Tristeza que eu sentia na minha infancia, na minha adolescencia e ate quando me tornei mulher sempre que o trem passava.
Lembrei-me de quantas vezes olhei atentamente para os trilhos na adolescencia sempre que os via e sentia uma falta de paz.
Ja era Segunda - feira.
As 11 da manha nos Estados Unidos. Enquanto no Brasil eu aguardava Hugo retornar para casa para conversarmos sobre os documentos e todas essas lembrancas vieram a minha mente.
Nesse exato momento Hugo voltou a ter uma crise quando atravessava os trilhos do trem e se foi.
Foi levado ao ceu antes que pudesse chegar ate a mim...
E tudo muito curioso. Tudo aquilo que alguns chamariam de coincidencia.
Foi no mes de Julho as duas viagens.
A vinda, e a ida.
Foi exatamente o mesmo tempo que convivi com ele na infancia , e da adolescencia ate a fase adulta.
Deus permitiu que vivessemos juntos exatamente o mesmo tempo. O inicio e o fim.
Misericordioso e Deus que trouxe o meu filho para conviver comigo no fim , da mesma maneira que o trouxe para o meu ventre para conviver comigo no inicio. E durante o mesmo tempo.
Hugo deixou para todos os que o conheceram na fase adulta principalmente uma grande licao de vida.
Se posso chamar Abraao o pai da fe, eu chamaria Hugo o filho da fe.
Hugo foi bondoso, generoso, perdoador, e principalmente fervoroso.
O seu amor por Deus era admiravel!
Por quantas vezes vi meu filho dizer-me " Mae , como Deus e bom, mae!"
As vezes o mundo estava caindo aos lados dele e ele nao parava de dizer: " Mae, como DEus e bom, mae".
Em tudo ele via bencao! Em tudo ele conseguia ver o dedo de Deus tomando providencias.
Hugo jamais deixou de amar...
Perfeito e eximio estudioso da Biblia como era, acabou por colecionar varias. Tinha o habito de assinalar textos biblicos que considerava interessantes. E um deles encontrei assinalado pelo meu proprio filho na noite anterior ao seu velorio e funeral que foi usado por Deus para refrigerar meu coracao...nao foi a toa.
O texto tem tudo a ver com as concepcoes de Hugo, e diz"
"Se vivemos por Deus vivemos. Se morremos por Deus morremos.
Portanto, quer vivamos, quer morramos, somos do Senhor.
Foi por isso que Cristo morreu, e ressucitou, para ser Senhor dos mortos e dos vivos".

Em seguida. Na mesma noite. Numa outra Biblia de Hugo . Na contra capa , encontrei os seguintes versos escritos por ele:
"NUnca odeia. Nunca exploda. Nunca deixe de gostar...
Siga sempre a sua palavra, a menos que seja contra a Palavra de DEus.
Divirta-se e cumpra com a sua missao e trabalho".

Esse ultimo ficou na memoria de todos que conheceram Hugo e que conheciam a sua grande fe e amor a Deus.

Meu filho foi um exemplo de cristao, pois vivia realmente o cristianismo.
Amava a Deus por sobre todas as coisas.
Foram inumeras as vezes que ele nos desafiou dizendo: " Isso aqui, o meu corpo, nao e nada! Se eu morrer a unica coisa que ira acontecer e que ficarei mais perto de Deus".
Hugo tinha de fato essa conviccao. Certeza total de sua salvacao pela graca. Pelo sangue de Jesus.
Jamais se abateu pela sua doenca e prosseguiu trabalhando, estudando e sendo esforcado.
E ate mesmo quando desanimei arrumando as suas coisas que deixou nesse mundo. Ainda assim, Hugo falou comigo e me encorajou.
Encontrei entre suas roupas , tambem de sua autoria , as seguintes palavras escritas:

"Siga a sua vida em frente. Nao olhe para tras
Se voce olhar para tras, voce vai parar.
Se voce olhar para baixo, voce vai cair.
Siga em frente. Olhe adiante.
So olhe para tras para contemplar a beleza dos jardins".

Quanto a mim...
Eu voltei a andar por sobre as aguas....
Nao sinto por isso...
E muito facil ter fe quando ainda ha a esperanca de Deus abrir o mar...
Fe se prova quando precisamos andar por sobre as aguas ate chegar a nossa hora de subirmos aos ceus e encontrarmos a quem tanto amamos e amaremos eternamente.

Hugo, meu filho. Segure a minha mao e vamos cantar novamente juntos enquanto sorrimos um para o outro: "Deus nos fara andar por sobre as aguas".

Te amo meu filho.
E te amo Deus.
Te amo sobretudo pela morada que reservou no ceu para aquele que antes de ser o meu filho ja era seu

Mamae.